quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Carta entregue e discutida com o futuro Governador do DF em 30 de Novembro de 2010


Carta Aberta dos Servidores da Seduma ao Novo Governador do Distrito Federal
Brasília 26 de Novembro de 2010
Ao Ilustríssimo Senhor Agnelo Queiroz,
Governador do Distrito Federal Eleito pela Coligação Novo Caminho
Como cidadãos brasilienses e servidores da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente – SEDUMA queremos, primeiramente, cumprimentá-lo pela vitória nas urnas, sobretudo por saber que o programa de governo que Vossa Excelência apresentou à sociedade traz como meta síntese estabelecer um novo caminho para o desenvolvimento do Distrito Federal, intento que também perseguimos e queremos ver concretizado.
Governar o Distrito Federal é missão tão honrosa quanto desafiante. Particularmente em um momento político delicado como este, onde a desconfiança dos brasilienses nos seus governantes é imensa. Os motivos para tal sentimento coletivo são vários, desde a insatisfação com a prática de políticas equivocadas e prejudiciais ao interesse público – vide a realidade sociourbana que nos cerca – à falta de ética dos últimos mandatários no trato dos recursos públicos.
Nesse contexto de descrença na estrutura político-administrativa, é natural que o governo de Vossa Excelência traga esperança para todos. O crédito depositado no seu programa de governo expressa não só a vontade inequívoca de que sua administração não repita os erros e os desvios éticos dos últimos tempos, mas, ao contrário, avance na construção de uma cidade mais justa, equitativa e saudável, na qual os serviços públicos sejam eficientes e funcionem em prol do cidadão. Anseio comum que, por si só, lhe impõe grande responsabilidade administrativa.
A expectativa da população brasiliense, da qual compartilhamos, é que efetivamente se cumpram os compromissos assumidos por Vossa Excelência no período eleitoral, e que foram sintetizados no seu programa de governo da seguinte forma:
“O compromisso do nosso governo será seguir um novo caminho. Desenvolver o Distrito Federal, de forma sustentável e socialmente justa, com distribuição de renda, recuperação dos serviços públicos e participação de todos.”
Ao que nos compete com servidores públicos, responsáveis pela execução da política urbana do Distrito Federal, reiteramos nosso empenho em contribuir para que se instale outra ordem institucional nesse setor administrativo, que venha permitir ao desenvolvimento urbano trilhar por um novo caminho, onde a ética e o interesse público se sobreponham.
No entanto, mudanças na administração pública não se fazem só com discursos e boa vontade. É preciso criar condições políticas, técnicas e operacionais para que elas aconteçam. Temos consciência que a melhoria do quadro institucional da área de planejamento e desenvolvimento urbano de uma região metropolitana do tamanho, importância e complexidade da de Brasília, é um grande desafio.
Ainda mais, quando se sabe que a gestão do seu território foi tão negligenciada nos últimos anos, por conta da conduta insensata de governos anteriores, que legaram enorme passivo para as administrações subseqüentes. Especialmente no que concerne à desarticulação da máquina pública, ao uso perdulário do solo, ao desrespeito ambiental, à especulação imobiliária, aos projetos urbanos equivocados, aos programas habitacionais ineficientes, ao comprometimento do patrimônio histórico e cultural da cidade, entre outros temas.

Na perspectiva de enfrentar tais problemas, alguns inclusive diagnosticados em seu programa de governo, é necessário rever conceitos, princípios, práticas e enfrentar questões institucionais que se arrastam há anos. Para tanto, torna-se imperativo estabelecer novos paradigmas, objetivos, métodos e metas para a política urbana local, entendendo-se que o planejamento e o desenvolvimento urbano pressupõem a articulação e a complementaridade de ações referentes à habitação, regularização fundiária, meio-ambiente, transporte, desenvolvimento econômico e obras públicas.
De outro modo, de nada adiantarão os compromissos, as boas idéias, as boas intenções e os grandes projetos para Brasília, pois sem ter capacidade técnica e operacional para executá-los, passaremos mais quatro anos dando continuidade aos problemas que tanto criticamos. Ou seja, sem uma política de governo consistente e decidida para a área de planejamento e desenvolvimento urbano, amparada em uma estratégia de ação compartilhada e exeqüível, apenas teremos mais do mesmo.
Nesse sentido, na perspectiva de contribuir para a formulação e gerenciamento da Política Urbana do Distrito Federal, apontamos sete questões que exigem tratamento imediato da próxima administração:
1.    Fragmentação e Desarticulação Institucional na Gestão do Planejamento Urbano
Atualmente, as ações de planejamento, desenvolvimento e intervenção urbana no Distrito Federal ocorrem de forma fragmentada e desarticulada. Os órgãos envolvidos com o planejamento urbano – SEDUMA, TERRACAP, Secretaria de Obras, Secretaria de Transporte, as Administrações Regionais, as Gerências de Projetos subordinadas ao Gabinete do Governador, GRUPAR – unidade vinculada à Secretaria de Governo e CODHAB – Companhia de Desenvolvimento Habitacional vinculada à SEDUMA – atuam sem a devida articulação técnica, com sobreposição de funções e desobediência às diversas instâncias decisórias.
Na verdade, é difícil afirmar qual é, verdadeiramente, a instituição responsável pelo planejamento e a gestão urbana do Distrito Federal. Legalmente, seria a SEDUMA. Na prática, porém, nem sempre isso se confirma, aspecto que se reflete no inadequado monitoramento do território. Por decorrência, não é raro deparar com empreendimentos e intervenções de grande impacto urbano sendo executados, sem a devida participação e anuência do órgão responsável pelo planejamento e desenvolvimento urbano.
Assim, é fundamental avaliar os mecanismos de ação dos diversos órgãos diretamente envolvidos com a questão urbana, no sentido de promover a integração e articulação, em todos os níveis de governo, de programas de urbanização, de habitação, de regularização urbanística e fundiária, de proteção ambiental, de preservação cultural, entre outros, com a política de planejamento urbano.
Proposta
Efetivar o Sistema de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal – SISPLAN previsto na Lei Orgânica (Art. 326), no sentido de romper com o atual quadro de fragmentação, desarticulação e sobreposição institucional em relação à política urbana, e possibilitar a articulação, compatibilização e complementação das políticas setoriais do governo.
Fortalecer o órgão executivo central do SISPLAN, dotando-a de uma estrutura eficaz, capacitada e compatível para responder por suas responsabilidades quanto às questões urbana, ambiental, habitacional e patrimonial.
Efetivar o Sistema de Informação Territorial e Urbana do Distrito Federal – SITURB, previsto na Lei Orgânica (Art. 324), na perspectiva de aperfeiçoar o tratamento das informações referentes ao uso e ocupação do solo, e garantir sua disponibilização ao público.
2.    Fortalecimento do Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal – CONPLAN – órgão colegiado que compõe o SISPLAN
A existência do CONPLAN na estrutura do Governo busca viabilizar a participação social na formulação e execução da política urbana. Desse ponto de vista, sua composição deveria contemplar os diversos segmentos que constituem a sociedade, tais como: setor produtivo, organizações sociais, ONGs, entidades profissionais, acadêmicas e de pesquisa, entidades sindicais e órgãos governamentais.
O CONPLAN foi criado com a função consultiva e deliberativa para auxiliar a Gestão Pública na formulação, análise, acompanhamento e atualização das diretrizes e dos instrumentos de implementação da política territorial e urbana, com representatividade e participação efetiva da população.
Esta função, no entanto, não está sendo plenamente cumprida, uma vez que tem apenas legitimado as decisões do governo, por serem, os conselheiros, representantes da sociedade indicados pelo próprio governo.
Está em andamento na esfera da SEDUMA e do próprio CONPLAN uma proposta de regulamentação do Sistema de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal – SISPLAN, em atendimento ao disposto no Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT (LC N.º 803/2009) que, além da estrutura básica do CONPLAN, também estabelece atribuições para os Conselhos das Unidades de Planejamento Territorial (CUP) e para os Conselhos Locais de Planejamento (CLP).
Proposta
Debater a proposta do SISPLAN, em elaboração na SEDUMA, promovendo os ajustes necessários e adotando as medidas para a instalação, tanto dos Conselhos de Planejamento Territorial (CUP), como dos Conselhos Locais de Planejamento (CLP). Avaliar a necessidade de retomada do Conselho de Gestão da Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília.
3.    Gestão do Patrimônio Cultural da Humanidade
Atualmente a gestão do Conjunto Urbanístico de Brasília, Monumento Histórico Nacional e Patrimônio Cultural da Humanidade, que compreende o sítio histórico definido pela poligonal de tombamento federal, abrangendo quatro regiões administrativas (Plano Piloto, Cruzeiro, Candangolândia e Sudoeste/Áreas Octogonais), está concentrada em uma diretoria da SUPLAN/SEDUMA.
A inexistência de uma estrutura técnico-administrativa distrital, compatível com a demanda protecionista com esse patrimônio, explicita não só a falta de prioridade desse tema na agenda política, mas, sobretudo, a imensa fragilidade institucional do Governo do Distrito Federal, no trato de uma questão de tamanha relevância e complexidade, haja vista a responsabilidade decorrente dos compromissos governamentais assumidos pela preservação de Brasília como patrimônio histórico nacional e mundial.
Proposta
Criar no âmbito do Governo do Distrito Federal uma estrutura administrativa para responder pela preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília, com status político, técnico e operacional compatível com as demandas específicas da área sob tombamento federal e reconhecida como Patrimônio Mundial.
Empreender ações para o estabelecimento de cooperação técnica entre o GDF e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, na perspectiva de garantir ações articuladas de proteção e sustentabilidade do conjunto urbano tombado.
4.    Terceirização do Planejamento Urbano
O planejamento urbano constitui uma atividade governamental que requer estudos técnicos permanentes e específicos, entre os quais se destacam: avaliações de impactos ambientais e de vizinhança, elaboração de projetos urbanísticos, edição de normas edilícias e urbanísticas, disciplinamentos relativos à publicidade, equipamentos e mobiliário urbano, entre tantos outros temas. Este contexto exige uma equipe técnica capacitada e dimensionada adequadamente para responder às solicitações dessa área institucional.
Em que pese os poucos investimentos realizados nos últimos anos na capacitação do quadro de servidores da área de planejamento e gestão urbana, pode-se afirmar que a SEDUMA dispõe de um quadro técnico experiente e com boa formação profissional, ainda que insuficiente para atender à demanda operacional dessa área, nos termos gerenciais hoje estabelecidos. Vários são os servidores com títulos de mestres e doutores.
No entanto, apesar da experiência técnica que possuem os servidores, o que vem acontecendo com frequência é a contratação externa de prestadores de serviço para a realização da quase totalidade dos projetos e estudos urbanísticos. Isto, além de administrativamente discutível, uma vez que subtrai da instituição a sua atividade fim, tem agregado pouco valor técnico aos produtos contratados, que demandam constante revisão, complementação e reelaboração por parte dos servidores de carreira da SEDUMA.
Proposta
Fortalecer e ampliar a equipe técnica dos órgãos responsáveis pela política urbana por meio de concurso público e implementar um programa permanente de capacitação dos servidores da área de planejamento e desenvolvimento urbano, de forma que os projetos urbanísticos possam ser desenvolvidos, preferencialmente, pelo corpo técnico governamental.
Rever os critérios de contratação de terceiros para a realização de estudos e projetos urbanísticos. Este deve ser um recurso para a execução de serviços específicos e especializados, desde que inseridos no âmbito de ações estratégicas coordenadas pela equipe técnica da SEDUMA.
Viabilizar convênio com universidades e instituições de pesquisa, para apoio e troca de experiências referentes ao desenvolvimento de estudos e projetos urbanos.
Ampliar o aporte técnico-jurídico em gerenciamento e acompanhamentos de contratos e convênios para o suporte aos servidores.
5.    Valorização da Estrutura Institucional Pública
A tese do Estado mínimo, que se amparava no ideário neoliberal, onde o mercado seria preponderante e assumiria certas funções de governo, causou, entre outros problemas, o desmantelamento e a desarticulação da máquina pública do Distrito Federal. Raros foram os setores administrativos que conseguiram manter suas estruturas e cumprir satisfatoriamente com as suas obrigações institucionais. Vide o caso da Saúde, da Educação, da Cultura e outros mais.
No setor de planejamento e desenvolvimento urbano a situação não foi diferente. Ao longo dos últimos anos, esse setor perdeu boa parte de sua capacidade técnica e operativa. Convive com uma injustificada defasagem tecnológica que compromete o seu desempenho institucional, sobretudo, no que tange à área de cartografia, arquivamento, elaboração de projetos e geoprocessamento.
Como agravante a esse quadro institucional, as duas principais carreiras responsáveis pelas ações de planejamento e desenvolvimento urbano, convivem com uma incompreensível distorção salarial de cerca de 40%. Enquanto a Carreira de Auditoria de Atividades Urbanas, que é responsável pela fiscalização urbana, possui uma remuneração digna e compatível com as suas atribuições, a Carreira de Planejamento e Gestão Urbana que possui atribuições de mesmo grau de responsabilidade e complexidade percebe um dos menores salários do quadro técnico de nível superior do Governo do Distrito Federal.
Há que se considerar, também, as disparidades existentes entre as remunerações dos cargos comissionados na SEDUMA, que privilegiam as assessorias dos gabinetes em detrimento das funções de gerenciamento e direção.
Frente a esse quadro, é imprescindível instituir de imediato uma política consistente e responsável de valorização profissional dos servidores, respeitando-se, não só as particularidades de cada categoria, como também a participação destes na resolução dos seus problemas institucionais.
Proposta:
Promover a necessária valorização do ambiente de trabalho, incluindo a revisão salarial dos servidores da Carreira de Planejamento e Gestão Urbana, na perspectiva de corrigir a distorção na remuneração existente.
Rever as remunerações dos cargos comissionados da SEDUMA, de maneira a valorizar as funções de direção, gerenciamento e suas respectivas assessorias.
Prover a instituição de equipamentos e softwares atualizados, e promover a capacitação para atualização tecnológica da estrutura técnico-administrativa da SEDUMA.

6.    Fortalecimento Institucional das Administrações Regionais
As Administrações Regionais são órgãos responsáveis pela execução das ações governamentais em cada Região Administrativa – RA, atuando na prestação de serviços e obras públicas de natureza local, entre as quais constam a análise, a aprovação e o licenciamento de projetos edilícios, bem como o licenciamento e a fiscalização de obras públicas e a expedição de alvarás de funcionamento de atividades econômicas. Este trabalho, pela sua natureza, exige profissionais com qualificação técnica específica.
Atualmente, o Distrito Federal possui 30 RAs e a grande maioria não tem uma unidade técnica estruturada e capacitada para responder por essa atribuição. Além do grande déficit de servidores de carreira, as Administrações concentram grande número de funcionários apadrinhados políticos. Esta situação é agravada pela baixa capacitação técnica e alta rotatividade desses funcionários, cuja permanência fica condicionada aos arranjos políticos. Este fenômeno cria ainda uma enorme distorção no funcionamento dessas unidades, comprometendo seu desempenho institucional e trazendo sérios prejuízos à gestão territorial e urbana.
Outro problema é a desarticulação entre as ações dessas regionais e a SEDUMA. A criação de mecanismos de aproximação entre o Governo e a comunidade resultaria em uma melhor gestão dos recursos e serviços públicos.
Proposta
Ampliar e capacitar o quadro técnico das RAs, por meio de concursos públicos e programas de capacitação profissional aos servidores do quadro.
Reordenar as estruturas operacionais das RAs e reavaliar suas competências e atribuições técnico-institucional em relação ao planejamento urbano local.
Promover maior articulação técnica-operacional entre as RAs e SEDUMA.
Reavaliar a competência e a estratégia de ação da Coordenadoria das Cidades.
Por fim, cumpre-nos informar que a SEDUMA, em consonância com as suas responsabilidades institucionais, tem desenvolvido vários estudos, projetos e legislações urbanísticas, que por falta de prioridade ou recursos não foram implantados.
Tais projetos, constantes do “Relatório de Transição 2010/2011 – SEDUMA” encaminhado à equipe de transição envolvem: projetos urbanísticos, projetos de parques urbanos e de melhoria de espaços públicos e da acessibilidade, projetos relacionados à revitalização de espaços urbanos e à reestruturação urbana, entre outros. Alguns desses são passíveis de ser implantados, melhorando a condição de vida em diferentes localidades do Distrito Federal.
Não há dúvidas, Senhor Governador, de que nós servidores da SEDUMA, assim como a sociedade brasiliense, desejamos Um novo caminho para o Desenvolvimento do Distrito Federal. No entanto, o cumprimento dessa meta passa pelo enfrentamento dos problemas aqui ressaltados. Nossa experiência profissional e o aprendizado com acertos e erros de gestões passadas nos dão base para contribuir no equacionamento desses problemas e na construção de um novo modelo para política urbana local.
Temos consciência, porém, de que os desafios do planejamento e desenvolvimento urbano do Distrito Federal não se resumem aos problemas ora apontados e que o espaço urbano, aqui e alhures, é construído a partir de uma articulação de forças políticas dos grupos que compõem a sociedade. Desse modo, compete ao poder público buscar equilibrá-las, para que não haja prevalência dos interesses de um grupo sobre os demais.
Como servidores públicos e cidadãos brasilienses, estaremos continuamente à disposição de Vossa Excelência para debater a política urbana e territorial do Distrito Federal. Acreditamos que o início da nova gestão governamental possa ser precedido de um processo de discussão que envolva os técnicos da Casa, que certamente poderão contribuir, em conjunto com a equipe designada por Vossa Excelência, para encontrar novos caminhos para o desenvolvimento e gestão urbana do Distrito Federal.
Respeitosamente,

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